Respublica Repertório Português de Ciência Política Edição electrónica 2004 |
EASTON, DAVID N. 1917
Canadiano, nascido em Toronto. Doutorado em Harvard. Professor na Universidade
de Chicago desde 1947.
Considera que a vida política consiste em acções relacionadas com a autoridade
na distribuição dos valores (the political life consists of those actions
related to the authoritative allocation of values) e o sistema político aparece
como um complexo de actividades, dotado de autonomia (a system of interrelated
activities influence the way in which authoritative decisions are formulated and
executed for a society). Onde os valores aparecem como as vantagens, materiais
ou não materiais, que são repartidas no quadro de um sistema político.
Observa que a luta pelo poder não descreve o fenómeno essencial da vida
política; ela refere-se apenas a um aspecto relativamente importante, mas que
permanece, apesar de tudo secundário, concluindo que o poder é apenas uma das
variáveis significativas. Tendo apenas isto em atenção, omite-se uma dimensão
também muito importante da vida política, isto é, a sua orientação relativamente
a outros fins para além do poder. A vida política não consiste apenas numa luta
pelo poder.
Procura a autonomia do sistema político a partir da ideia de comunicação,
entendida como o processo de converter a informação em poder. O sistema político
é compreendido como um sistema de distribuição autoritária de valores, como um
conjunto de interacções pelas quais se efectua a distribuição (allocation)
autoritária (authoritative) de valores para uma sociedade. A vida política
aparece como a complex set of a process through which certain kinds of inputs
are converted into the type of outputs we may call authoritative policies,
decisions and implementing actions. E seria este processo funcional da
distribuição ou atribuição de valores, isto é, de objectos pelo mesmo sistema
valorizados, distribuição marcada pela autoridade, pela imperatividade, que
constituiria o traço distintivo do sistema político. Com esta perspectiva
sistémica, a ciência política volta assim a ganhar autonomia face à sociologia
e, pela via funcionalista, regressam temas fundamentais como os dos valores e e
da autoridade. Da mesma forma, se considera que a vida política tem a ver com a
unidade mais inclusiva, não podendo confundir-se com outros sistemas
parapolíticos.
Na linha do behaviorismo e de Parsons, coloca como noção fulcral da respectiva
análise a ideia de ambiente (environment), considerando que o sistema político é
um sistema de comportamentos incluído num dado ambiente, um sistema que é
influenciado pelo ambiente onde se insere, mas que também responde ou reage a
esse ambiente.
Existiria tanto um intra-societal environment, um ambiente interior, como um
extra-societal environment, um ambiente exterior. O ambiente interior seria o da
sociedade global, entendida como a soma do sistema político propriamente dito
como o dos sistemas não políticos, mas situados dentro do ciírculo da sociedade
global, como o sistema ecológico, o sistema biológico, o sistema psicológico (personality
system) e os sistemas sociais, incluindo nestes últimos, o sistema cultural, a
estrutura social, sistema económico, o sistema demográfico e outros subsistemas.
O ambiente exterior seria o ambiente que cerca a sociedade global, enumerando
Easton três elementos deste ambiente: international political systems,
international ecological systems e international social systems. O ambiente
total do sistema político seria assim a soma do ambiente interior com o ambiente
exterior.
Já o sistema político propriamente dito funcionaria como uma caixa negra
produtora de decisões e de acções (outputs), que teria como entradas, como
inputs, tanto as exigências (demands) como os apoios (support). Aqui, Easton, na
linha de Parsons, sofre as influências das teses de Wassily Leontief, anterior
Prémio Nobel da Economia, que havia desenvolvido a análise sistémica dos
inputs-outputs, perspectivando o sistema como algo de complexo que está em fluxo
constante, em perpétuo movimento, dado que o output vai influenciar o input.
O apoio traduz-se na disposição de um actor A relativamente a B, quando A actua
em favor de B ou quando se orienta favoravelmente face a B, podendo B ser uma
pessoa, um grupo, um fim, uma ideia ou uma instituição. Já a exigência é
definida como a expressão da opinião que uma atribuição dotada de autorida,
respeitante a um domínio particular, deve ou não ser feita pelos que para tal
são encarregados.
Os outputs constituiriam a distribuição autoritária de valores, pelos quais um
sistema político diminuiria o peso das exigências que lhe são dirigidas ou
maximizaria os apoios de que dispõe.
Dentro da caixa negra do sistema, far-se-ia a retroacção da informação, a
conversão das demands em outputs, através das chamadas autoridades. Pela
retroacção um sistema político pode assim ajustar a sua actividade tendo em
conta os resultados da sua actividade passada. Ela aparece como um conjunto de
processos que permite ao sistema controlar e regularizar as perturbações que se
façam sentir.
Em 1969, vem falar na necessidade de uma postbehavioral revolution nos domínios
da ciência política, onde fosse possível conciliar os métodos quantitativos e o
apelo aos factos da revolução comportamentalista, com os dados qualitativos da
teoria política e os valores, uma revolução que não seria rejeição do contributo
behaviorista para o alargamento da base cogniscitiva da ciência política, mas
que teria de aliar, a tais métodos quantitativos, o qualificativo de uma teoria
geral própria.
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